sábado, 26 de junho de 2010

MINHA DOCE DESCONHECIDA







Há dias, que me pergunto quem é, ela? Quem é  essa roubadora de sossego.


Uma miragem? Que vejo caminhando a beira do mar.

Pisando na areia, se notar que estou por ali.

Sem perceber que amanhã vou vê-la outra vez passar

Na memória...



É ela uma vaga recordação de uma flor que vi em algum jardim

É quem nunca vi exposta em jardins no mundo em que antes vivi

É uma desconhecida vizinha do longe, tão distante de mim?

Se a vi foi apenas dejavú daquilo que nunca vi

Quem é ela? Aquele riso? Aquele rosto?

Aquela beleza retirada da natureza dos humanos!

Como eu nunca a vi? Senão em raras fotos!

Como nunca com ela falei? Senão em textos mudos!



Quem é ela? Que ousas me deixar assim.

Pensando num ser que com olhos não vi

Pensando se ela é real ou uma miragem

Pensando por que doe tanto pensar no que nunca vi

Com resignação do qual não posso resistir ficar a imaginá-la perto de mim

Quem é ela? Este ser feminino que rouba meu sossego

Ser que se esconde em minas do qual se extrai encantos

Que só me deixa vê-la através de uma tela cristalizada

Tela que não possa atravessá-la como atravessaria rios

Tenho então que me contentar em perscrutar seu código mor.

Em raras fotos e em textos os quais não posso ouvir sua voz.

E ouvir sua voz se torna apenas ver-la em minha frente como uma miragem.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

A ÚLTIMA MENSAGEM DE JOHN STOTT EM KESWICK





 

A ÚLTIMA MENSAGEM DE JOHN STOTT EM KESWICK



Meu amigo Leighton Ford me enviou a última mensagem de nosso amigo comum, John Stott, no celebrado e tradicional evento cristão em Keswick, na Inglaterra.

Abaixo segue uma introdução do Leighton e a mensagem do John.

É com todo amor que a compartilho com você.

Nele, que deu homens como dons aos homens,


Caio

07/10/07
Lago Norte
Brasília

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Introdução: Leighton Ford



Tenho uma admiração ilimitada por John Stott, como professor, pregador e líder, e como alguém de quem me alegro por poder chamar de amigo. John Stott, hoje com cerca de 85 anos, vive em uma casa de repouso no sul da Inglaterra. Contudo, sua mensagem continua clara. Segue a mensagem (Tornando-nos Semelhantes a Cristo) que ele trouxe nesse verão, na convenção de Keswick, na Inglaterra. O estilo e o conteúdo são típicos de Stott: bíblicos, reflexivos, desafiadores. Vale a pena ler e reler!

Leighton

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Mensagem de John Stott em Keswick


Dr. John Stott — “O Paradigma: Tornando-nos Mais Semelhantes a Cristo”. Sermão pregado na Convenção de Keswick em 17 de julho de 2007



Lembro-me muito claramente de que há vários anos, sendo um cristão ainda jovem, a questão que me causava perplexidade (e a alguns amigos meus também) era esta: Qual é o propósito de Deus para o seu povo? Uma vez que tenhamos nos convertido, uma vez que tenhamos sido salvos e recebido vida nova em Jesus Cristo, o que vem depois? É claro que conhecíamos a famosa declaração do Breve Catecismo de Westminster: “O fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre”. Sabíamos disso e críamos nisso. Também refletíamos sobre algumas declarações mais breves, como uma de apenas sete palavras: “Ama a Deus e ao teu próximo”. Mas de algum modo, nenhuma delas, nem outra que pudéssemos citar, parecia plenamente satisfatória. Portanto, quero compartilhar com vocês o entendimento que pacificou minha mente à medida que me aproximo do final de minha peregrinação neste mundo. Esse entendimento é: Deus quer que seu povo se torne semelhante a Cristo. A vontade de Deus para o seu povo é que sejamos conformes à imagem de Cristo.

Sendo isso verdade, quero propor o seguinte: em primeiro lugar, demonstrarmos a base bíblica do chamado para sermos conformes à imagem de Cristo; em segundo, extrairmos do Novo Testamento alguns exemplos; em terceiro, tirarmos algumas conclusões práticas a respeito. Tudo isso relacionado a nos assemelharmos a Cristo.

Então, vejamos primeiro a base bíblica do chamado para sermos semelhantes a Cristo. Essa base não se limita a uma passagem só. Seu conteúdo é substancial demais para ser encapsulado em um único texto. De fato, essa base consiste de três textos, os quais, aliás, faríamos muito bem em incorporar conjuntamente à nossa vida e visão cristã: Romanos 8:29, 2 Coríntios 3:18 e 1 João 3:2. Vamos fazer uma breve análise deles.

Romanos 8:29 diz que Deus predestinou seu povo para ser conforme à imagem do Filho, ou seja, tornar-se semelhante a Jesus. Todos sabemos que Adão, ao cair, perdeu muito — mas não tudo — da imagem divina conforme a qual fora criado. Deus, todavia, a restaurou em Cristo. Conformar-se à imagem de Deus significa tornar-se semelhante a Jesus: O propósito eterno de predestinação divina para nós é tornar-nos conformes à imagem de Cristo.

O segundo texto é 2 Coríntios 3:18: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. Portanto é pelo próprio Espírito que habita em nós que somos transformados de glória em glória — que visão magnífica! Nesta segunda etapa do processo de conformação à imagem de Cristo, percebemos que a perspectiva muda do passado para o presente, da predestinação eterna de Deus para a transformação que ele opera em nós agora pelo Espírito Santo. O propósito eterno da predestinação divina de nos tornar como Cristo avança, tornando-se a obra histórica de Deus em nós para nos transformar, por intermédio do Espírito Santo, segundo a imagem de Jesus.

Isso nos leva ao terceiro texto: 1 João 3:2: “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é”. Não sabemos em detalhes como seremos no último dia, mas o que de fato sabemos é que seremos semelhantes a Cristo. Não precisamos saber de mais nada além disso. Contentamo-nos em conhecer a verdade maravilhosa de que estaremos com Cristo e seremos semelhantes a ele, eternamente.

Aqui há três perspectivas: passado, presente e futuro. Todas apontam na mesma direção: há o propósito eterno de Deus, pelo qual fomos predestinados; há o propósito histórico de Deus, pelo qual estamos sendo transformados pelo Espírito Santo; e há o propósito final ou escatológico de Deus, pelo qual seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é. Estes três propósitos — o eterno, o histórico e o escatológico — se unem e apontam para um mesmo objetivo: a conformação do homem à imagem de Cristo. Este, afirmo, é o propósito de Deus para o seu povo. E a base bíblica para nos tornarmos semelhantes a Cristo é o fato de que este é o propósito de Deus para o seu povo.

Prosseguindo, quero ilustrar essa verdade com alguns exemplos do Novo Testamento. Em primeiro lugar, creio ser importante que nós façamos uma afirmação abrangente como a do apóstolo João em 1 João 2:6: “Aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou”. Em outras palavras, se nos dizemos cristãos, temos de ser semelhantes a Cristo. Este é o primeiro exemplo do Novo Testamento: temos de ser como o Cristo Encarnado.

Alguns de vocês podem ficar horrorizados com essa idéia e rechaçá-la de imediato. “Ora”, me dirão, “não é óbvio que a Encarnação foi um evento absolutamente único, não sendo possível reproduzi-lo de modo algum?” Minha resposta é sim e não. Sim, foi único no sentido de que o Filho de Deus revestiu-se da nossa humanidade em Jesus de Nazaré, uma só vez e para sempre, o que jamais se repetirá. Isso é verdade. Contudo, há outro sentido no qual a Encarnação não foi um evento único: a maravilhosa graça de Deus manifestada na Encarnação de Cristo deve ser imitada por todos nós. Nesse sentido, a Encarnação não foi única, exclusiva, mas universal. Somos todos chamados a seguir o supremo exemplo de humildade que ele nos deu ao descer dos céus para a terra. Por isso Paulo diz em Filipenses 2:5-8: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz”. Precisamos ser semelhantes a Cristo em sua Encarnação no que diz respeito à sua admirável humildade, uma humilhação auto-imposta que está por trás da Encarnação.

Em segundo lugar, precisamos ser semelhantes a Cristo em sua prontidão em servir. Agora, passemos de sua Encarnação à sua vida de serviço; de seu nascimento à sua vida; do início ao fim. Quero convidá-los a subir comigo ao cenáculo onde Jesus passou sua última noite com os discípulos, conforme vemos no evangelho de João, capítulo 13: “Tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido”. Ao terminar, retomou seu lugar e disse-lhes: “Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo” — note-se a palavra — “para que, como eu vos fiz, façais vós também”.

Há cristãos que interpretam literalmente esse mandamento de Jesus e fazem a cerimônia do lava-pés em dia de Ceia do Senhor ou na Quinta-feira Santa — e podem até estar certos em fazê-lo. Porém, vejo que a maioria de nós fez apenas uma transposição cultural do mandamento de Jesus: aquilo que Jesus fez, que em sua cultura era função de um escravo, nós reproduzimos em nossa cultura sem levarmos em conta que nada há de humilhante ou degradante em o fazermos uns pelos outros.

Em terceiro lugar, temos de ser semelhantes a Cristo em seu amor. Isso me lembra especificamente Efésios 5:2: “Andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave”. Observe que o texto se divide em duas partes. A primeira fala de andarmos em amor, um mandamento no sentido de que toda a nossa conduta seja caracterizada pelo amor, mas a segunda parte do versículo diz que ele se entregou a si mesmo por nós, descrevendo não uma ação contínua, mas um aoristo, um tempo verbal passado, fazendo uma clara alusão à cruz. Paulo está nos conclamando a sermos semelhantes a Cristo em sua morte, a amarmos com o mesmo amor que, no Calvário, altruistamente se doa.

Observe a idéia que aqui se desenvolve: Paulo está nos instando a sermos semelhantes a Cristo na Encarnação, ao Cristo que lava os pés dos irmãos e ao Cristo crucificado. Esses três acontecimentos na vida de Cristo nos mostram claramente o que significa, na prática, sermos conformes à imagem de Cristo.

Em quarto lugar, temos de ser semelhantes a Cristo em sua abnegação paciente. No exemplo a seguir, consideraremos não o ensino de Paulo, mas o de Pedro. Cada capítulo da primeira carta de Pedro diz algo sobre sofrermos como Cristo, pois a carta tem como pano de fundo histórico o início da perseguição. Especialmente no capítulo 2 de 1 Pedro, os escravos cristãos são instados a, se castigados injustamente, suportarem e não retribuírem o mal com o mal. E Pedro prossegue dizendo que para isto mesmo fomos chamados, pois Cristo também sofreu, deixando-nos o exemplo — outra vez a mesma palavra — para seguirmos os seus passos. Este chamado para sermos semelhantes a Cristo em meio ao sofrimento injusto pode perfeitamente se tornar cada vez mais significativo à medida que as perseguições se avolumam em muitas culturas do mundo atual.

No quinto e último exemplo que quero extrair do Novo Testamento, precisamos ser semelhantes a Cristo em sua missão. Tendo examinado os ensinos de Paulo e de Pedro, veremos agora os ensinos de Jesus registrados por João. Em João 17:18, Jesus, orando, diz: “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo”, referindo-se a nós. E na Comissão, em João 20:21, Jesus diz: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio”. Estas palavras carregam um significado imensamente importante. Não se trata apenas da versão joanina da Grande Comissão; é também uma instrução no sentido de que a missão dos discípulos no mundo deveria ser semelhante à do próprio Cristo. Em que aspecto? Nestes textos, as palavras-chave são “envio ao mundo”. Do mesmo modo como Cristo entrou em nosso mundo, nós também devemos entrar no “mundo” das outras pessoas. É como explicou, com muita propriedade, o Arcebispo Michael Ramsey há alguns anos: “Somente à medida que sairmos e nos colocarmos, com compaixão amorosa, do lado de dentro das dúvidas do duvidoso, das indagações do indagador e da solidão do que se perdeu no caminho é que poderemos afirmar e recomendar a fé que professamos”.

Quando falamos em “evangelização encarnacional” é exatamente disto que falamos: entrar no mundo do outro. Toda missão genuína é uma missão encarnacional. Temos de ser semelhantes a Cristo em sua missão. Estas são as cinco principais formas de sermos conformes à imagem de Cristo: em sua Encarnação, em seu serviço, em seu amor, em sua abnegação paciente e em sua missão.

Quero, de modo bem sucinto, falar de três conseqüências práticas da assemelhação a Cristo.

Primeira: A assemelhação a Cristo e o sofrimento. Por si só, o tema do sofrimento é bem complexo, e os cristãos tentam compreendê-lo de variados pontos de vista. Um deles se sobressai: aquele segundo o qual o sofrimento faz parte do processo da transformação que Deus faz em nós para nos assemelharmos a Cristo. Seja qual for a natureza do nosso sofrimento — uma decepção, uma frustração ou qualquer outra tragédia dolorosa —, precisamos tentar enxergá-lo à luz de Romanos 8:28-29. Romanos 8:28 diz que Deus está continuamente operando para o bem do seu povo, e Romanos 8:29 revela que o seu bom propósito é nos tornar semelhantes a Cristo.

Segunda: A assemelhação a Cristo e o desafio da evangelização. Provavelmente você já se perguntou: “Por que será que, até onde percebo, em muitas situações os nossos esforços evangelísticos freqüentemente terminam em fracasso?” As razões podem ser várias e não quero ser simplista, mas uma das razões principais é que nós não somos parecidos com o Cristo que anunciamos. John Poulton, que abordou o tema num livreto muito pertinente, intitulado A Today Sort of Evangelism, escreveu:

“A pregação mais eficaz provém daqueles que vivem conforme aquilo que dizem. Eles próprios são a mensagem. Os cristãos têm de ser semelhantes àquilo que falam. A comunicação acontece fundamentalmente a partir da pessoa, não de palavras ou idéias. É no mais íntimo das pessoas que a autenticidade se faz entender; o que agora se transmite com eficácia é, basicamente, a autenticidade pessoal”.

Isto é assemelhar-se à imagem de Cristo. Permitam-me dar outro exemplo. Havia um professor universitário hindu na Índia que, certa vez, identificando que um de seus alunos era cristão, disse-lhe: “Se vocês, cristãos, vivessem como Jesus Cristo viveu, a Índia estaria aos seus pés amanhã mesmo”. Eu penso que a Índia já estaria aos seus pés hoje mesmo se os cristãos vivessem como Jesus viveu. Oriundo do mundo islâmico, o Reverendo Iskandar Jadeed, árabe e ex-muçulmano, disse: “Se todos os cristãos fossem cristãos — isto é, semelhantes a Cristo —, hoje o islã não existiria mais”.

Isto me leva ao terceiro ponto: Assemelhação a Cristo e presença do Espírito Santo em nós. Nesta noite falei muito sobre assemelhação a Cristo, mas será que ela é alcançável? Por nossas próprias forças é evidente que não, mas Deus nos deu seu Santo Espírito para habitar em nós e nos transformar de dentro para fora. William Temple, que foi arcebispo na década de 40, costumava ilustrar este ponto falando sobre Shakespeare:

“Não adianta me darem uma peça como Hamlet ou O Rei Lear e me mandarem escrever algo semelhante. Shakespeare era capaz, eu não. Também não adianta me mostrarem uma vida como a de Jesus e me mandarem viver de igual modo. Jesus era capaz, eu não. Porém, se o gênio de Shakespeare pudesse entrar e viver em mim, então eu seria capaz de escrever peças como as dele. E se o Espírito Santo puder entrar e habitar em mim, então eu serei capaz de viver uma vida como a de Jesus”.

Para concluir, um breve resumo do que tentamos pensar juntos aqui hoje: O propósito de Deus é nos tornar semelhantes a Cristo. O modo como Deus nos torna conformes à imagem de Cristo é enchendo-nos do seu Espírito. Em outras palavras, a conclusão é de natureza trinitária, pois envolve o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
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Fonte do original em inglês: http://www.langhampartnership.org/2007/08/06/john-stott-address-at-keswick/
Tradução: F. R. Castelo Branco | Outubro 2007


Extraido de:www.caiofabio.net

O MUNDO ACABOU PARA MIM


De que vale ganhar o mundo inteiro e perder a propria alma.
Jesus cristo





“Pois para mim o viver é Cristo; e o morrer é lucro!” — Paulo, o apóstolo

Para quem encontra Jesus e Sua Palavra, o Evangelho de Deus, não há mais como viver [...] senão num mundo que já não é; que já acabou.
O mundo, como era, acabou; embora todos os seus sinais de vigor e poder estejam mais do que presentes entre todos os humanos.
Sim; pois o mundo acabou no olhar...
Antes de Jesus havia apenas um modo de ver o mundo, com uma ou duas exceções filosóficas; os demais, no entanto, caminhavam todas segundo o fluxo do mundo que existe para os que dele vivem...
Em Jesus, no entanto, para todo aquele que vê além do visível, ou seja, para os da fé, o mundo acabou irremediável mente, sem chance de ressurreição!
Para mim, por exemplo, a presente existência é uma sucessão de atos de fé num mundo que existe em estado de morte completa; pois, tudo o que caracteriza os poderes deste mundo, foi despojado, desmascarado, desenganado, liquidado, morto e consumado em Jesus; visto que em Jesus as mortalhas do mundo foram removidas, sua burca foi retirada, e apareceu a cara da morte/morta; embora uma viva/morta que é o motor dos zumbis que pelos valores de vento gelado de tal essência/morta se alimentam e se deixam mover...
Em Jesus, todavia, o mundo acabou para todo aquele que enxergou do que o mundo é feito: de mentira, ilusão e fantasia; tudo criado pelo surto da cobiça do diabo que se tornou nossa!
Como o mundo não acabou para mim?...
Sim! Se quando Jesus nasceu os poderes se inverteram: o reino se transferiu para a Manjedoura!
Sim! Se quando Jesus viveu o pecado foi vencido em todas as tentações!
Sim! Se quando Jesus curou todas as doenças Ele decretou o fim da morte e da dor criados pelo mundo!
Sim! Se quando Jesus morreu Ele matava a morte espiritual que mata a todo homem!
Sim! Se quando Jesus ressuscitou dos mortos a própria Morte, o Diabo e o Inferno [...] foram lançados para dentro do Lago de Fogo como Decreto da Vida contra a Morte e seus agentes deliberados!
Sim! Se quando Jesus ascendeu aos céus todo poder existente no mundo e em qualquer existência se tornaram definitivamente por Ele vencidos pelas sutis e invisíveis forças do amor!
Portanto, para mim, o mundo acabou...
O mundo morreu... Sim; com suas glórias, cobiças, invejas, pressas, honras, dignidades, importâncias, sucessos, conquistas, afirmações, poderes, influências, medos, fanfarrices ilusórias, auto-engano, e culto ao estético, ao belo e ao aparentemente superior...
Ele, o mundo, não morreu apenas para quem continua vendo a vida pelo olhar do mundo; mas para quem agora só vê o que seja vida, e não mais o que seja existência como mundo, sim, para tais o mundo acabou; assim como para mim ele já era; embora minha vida aconteça nesse ambiente que é sem ser; que aparenta, mas não é; que fala de vida, embora seja um convite da morte!
Ora, é somente quando o mundo morre que a pessoa ganha o olhar que a faz viver nesta existência sem que isso signifique um viver do mundo.
Na realidade é um viver no ambiente/mundo, sem que, todavia, não se tenha nada a ver com ele!
Esta é a minha ambivalência em relação ao mundo: ele está morto para mim e eu para ele; e, por isto, e somente por tal razão, posso viver nele... E mais: nele posso viver sem a sua sorte de existência, que é animada pelo medo da morte, sendo este o poder que gera todas as formas de ilusão de poder e de superioridade satânica na existência segundo o mundo.
Paulo disse que a “aparência deste mundo passa”. Por isto ela manda que os que choram sejam como os que não chorassem; que os que se casam como se solteiros fossem na sua liberdade de seguir a vida de modo desimpedido; que os que compram sejam como os que nada possuem; que os que se servem este mundo sejam como aqueles que usam produtos descartáveis; e que até mesmo aqueles que se elegram, sejam como aqueles que não têm porque alegrar-se...
Este é meu paradoxo!
Sim! Vivo mais que vivo numa existência que já acabou para mim!
Este era o convite de Paulo a todos os discípulos de Jesus!
Sim, dizia ele:
“Vocês morreram com Cristo! O mundo acabou! Estamos crucificados com Jesus! Ressuscitamos com Ele! Assentamo-nos no Seu trono juntamente com Ele!”
Portanto, embora aqui ainda, somos apenas uns forasteiros; uns seres de passagem; livres como a liberdade verdadeira que tal certeza instila em nós para sempre!
Para aqueles que entendem que o grande milagre do Evangelho é revelar o que é o mundo, do ponto de vista do Deus da Vida, surge grande libertação em relação a tudo o que se chame mundo; ao mesmo tempo em que, por tal milagre de entendimento, o mundo acabe de fato para o discípulo de Jesus; embora, apesar disso, o mundo se torne o lugar no qual vencemos o mal com o bem.
O mundo é assim o meu lugar de estar, mas não é meu modo de ser!

Nele, em Quem somente a morte pela fé nos liberta para o sentido da vida,

Caio
19 de junho de 2010
Lago Norte
Brasília
DF

Extraido de:www.caiofabio.net

terça-feira, 22 de junho de 2010

Poema de uma face

                                                              



                                              

Quando nasci, um menino acometido de macrocefalia,                                                              
Desses que as gentes vão chamar de cabeção na vida.                                                                                                                                                       
Disse: dona parteira - sai e vai, ser cabeção na vida, menino!                                                                             
Vá buscar felicidade tropeçando em sofrimento.                                                                                                
Vá falar da vida como se ela te fosse um estranho .                                                                                            
Vá ser espinhado pelas dores que te guardam o mundo.


Disse mãe apenas que meus olhos castanhos eram-lhe uma doce manhã                                                   
Que eles lhe enchiam no âmago um encanto por te dado ao mundo um homem.                               
Que eu iria jogar futebol ate cansar as pernas, mas, pra desgosto de pai preferi
Poesia.    
Que eu era espiador das curiosidades humanas, mexia em tudo que achava.  

E que quando adoeci, o mundo dela parecia ter desabado.



E como me aconselhou dona parteira e minha mãe, fui ser um bom cabeção na vida.               
Brinquei com a infância ate que ela me fosse um coisa ultrapassada e chata.                                     
Apaixonei-me por conhecimentos, gentes, meninas, platonicamente um adolescente.                       
Tive os amigos como água á enferrujar de amizade meu peito de ferro.                                                                     
E quando estava ficando bom não ser responsável e adulto                                                               
Acordei do sonho com o dever de trabalhar e fazer a barba.

Mas, almenos, não fui um menino preocupado com  sua macrocefalia.                                                          

O espelho em que eu me olhava todas as manhãs, sempre quis me deixar chateado.                  
Dizia-me que eu estava ficando velho, mais foi ele que amanheceu um dia no chão quebrado.                      
Chorei apenas quando as coisas que quando mais novo fui apaixonado desapareceram.                  
Mas, elas deixaram-me uma bela lição “eu ainda iria me apaixonar por mais coisas na estrada”.      
 E num que isso era verdade apaixonei por novidades, feito um louco que estava enjaulado.
Apaixonei-me com tudo aquilo que encontrei na festa que chamam de vida, as gentes,             
por livros, tantos lugares, imagens,  musicas, o poder que nos causa amar,
E as etc. Coisas que se acha nesta vida que nos deixa loucos como fofoqueiros pelas vidas dos outros

Cresci querendo cansar as pernas de tanto jogar bola com meus amigos.                                     
Querendo arranhar os dedos de tanto tocar rock n roll num violão de corda de aço.                      
Mas, no fim  todo talento me resumiu em deixar um eu medroso e poeta sair do casulo. Chorei
quando subi das rupturas, mais subi romper com as coisas passadas ( na minha velha maneira
de dizer “ nada como escrever um poema e pôr nele todas as minhas dores”)...                                               
Fiz meu mundo girar em torno de ser um aprendiz da vida e de poeta,                                 
medrosamente cabeção! Na vida de felicidade tropeçada á sofrimento.                                                      
Fiz do estranho que era a vida um bela e grande amigo intimo.                                                                                    
E se me espinhei com as dores que me guardou o mundo?                                                                                               
Ah! Eu nem percebi, fiquei extasiado com as flores e risos de gentes que vi no jardim da vida.
 

Fui um bom cabeção na vida...
Agora apenas um poeta fugindo da solidão de meu antigo lugar.
                                                                            
                                                                  Romário Tavares de castro

domingo, 20 de junho de 2010

Quando os ateus acreditam


 entreguei os pontos e admiti que Deusera Deus... talvez o convertido mais desanimado e relutante de toda a Inglaterra.”                                                                                                                            C s lewis







A percepção de mundo do cristianismo faz mais sentido do que a de outras cosmovisões
OLHO: Embora não possamos chegar a Deus através da razão, pode-se dizer que o cristianismo é a explicação mais racional da realidade em que vivemos
Em anos recentes, um dos principais produtos exportados pelo Reino Unido ao mundo tem sido uma carga de livros por autores ateus, tais como o biólogo evolucionista Richard Dawkins e o crítico literário Christopher Hitchins. Eles afirmam, basicamente, que a fé é irracional quando colocada de frente com a ciência moderna. Seus trabalhos têm incentivado uma onda de ateísmo militante na Europa ocidental e fomentado a descrença em Deus em vários cantos do planeta. Ninguém sabe ainda aonde este movimento vai dar, e mesmo se vai chegar a algum lugar além das estantes das livrarias, do sucesso editorial – Deus, um delírio, de Dawkins, virou bestseller – e das discussões acadêmicas. Isso porque, lá mesmo na Grã Bretanha, outros autores ateus parecem estar repensando o que falaram.
Será que há um outro avivamento varrendo a Inglaterra? Não; eles apenas estão examinando a racionalidade do cristianismo e as mesmas crenças que Dawkins e outros estão explorando de maneira bem vantajosa, mas chegam a conclusões bem opostas. Antony Flew, um erudito de fama bem estabelecida, foi o primeiro a dizer que tinha de ir “aonde as evidências o levavam.” Logo, chegou à conclusão de que dentro da teoria evolucionária não existe uma explicação lógica para a origem da vida. Embora ainda não acredite no Deus bíblico, Flew já concluiu que o ateísmo não é logicamente sustentável. De igual modo, Matthew Parris, outro ateu britânico notório, cometeu o erro de ir visitar obreiros evangélicos que atuam com ajuda humanitária em Malauí, na África. Lá, viu o poder do Evangelho transformando a vida de pessoas de maneira inquestionável. Preocupado com o que, disse: “Isso confunde minha crença ideológica, também teima em não se encaixar na minha visão do mundo e também envergonha minha suposição de que não existe um Deus.”
Ainda que Parris não queira seguir adiante com as observações que fez, ele está obviamente lutando com a percepção de mundo do cristianismo faz mais sentido do que a de outras cosmovisões. A verdade é que fé e razão não são inimigas. Se isso puder ser explicado de maneira consistente, pode influenciar as chamadas pessoas pensantes a considerarem as reivindicações de Cristo. Um forte argumento empírico pode ser feito para mostrar que o cristianismo é a única explicação racional da vida. As perguntas básicas que as pessoas fazem acerca da própria existência – de onde viemos, qual o propósito de nossa existência e para onde vamos – encontram resposta no cristianismo. Além disso, a fé cristã ensina que os seres humanos são criados à imagem de Deus, e assim sua dignidade é protegida. Não é apenas uma mera coincidência o fato de que são os cristãos que têm travado a maioria das campanhas sobre direitos humanos.
Vejamos a questão do pecado. Se as pessoas são boas, ou como argumentou o filósofo político Rousseau, os problemas podem ser resolvidos ao se criar um Estado utópico. Mas todos os esquemas utópicos da história acabaram em tirania. Enquanto isso, as religiões orientais enxergam a vida como um ciclo infindável de sofrimento. Não existe nenhuma maneira pelo qual os pecados possam ser perdoados – sendo que no Islã o conceito do perdão é simplesmente desconhecido.
Obviamente, nada disso é novidade. Acontece que, ontem como hoje, uma longa lista de ateus notórios, concentrados na sua grande maioria na Inglaterra, tem voltado para os caminhos da fé. Esses incrédulos começaram a analisar a racionalidade dos postulados do cristianismo e convenceram-se de que a Bíblia fala mais acertadamente sobre a condição humana – a própria definição de uma escolha racional. Quer tenha sido na Era Vitoriana, com Thomas Cooper, George Sexton e Joseph Barker, ou no século 20, com T.S. Eliot, Graham Greene e C.S. Lewis, todos concluíram que é perfeitamente racional escolher uma visão do mundo que nos oferece a melhor escolha para viver e que seja coerente com a maneira pela qual a vida realmente funciona.
O que isso nos diz? As pessoas hoje possuem uma visão caricaturada dos cristãos, vendo-os muitas vezes como seguidores, às vezes hipócritas e críticos, de um livro desatualizado, um compêndio antigo de meras ilusões. Mas se os cristãos puderem explicar porque sua fé é tão razoável, o cristianismo se tornará uma proposta atraente que abrirá a mente – e possivelmente o coração – daqueles muitos que duvidam. Embora não possamos chegar a Deus através da razão, pode-se dizer que o cristianismo é a explicação mais racional da realidade em que vivemos.



Texto de:Chuck Colson
Extraido de  http://cristianismohoje.com.br/ch/quando-os-ateus-acreditam/

Os benefícios de estar destroçado



Não há nada mais desesperador para o homem do que, vendo-se livre, encontrar a quem sujeitar-se. Fiodor Dostoievski 




Philip Yancey   
  Porque às vezes eu desejaria ser um alcoólatra


Ao ouvir os discursos neste período de eleições, alguém pode sugerir que a nova leva de políticos em Washington resolverá os problemas que essa nação tem enfrentado, ou até mesmo os problemas do mundo. Uma vez eleito o candidato X, ele ou ela resolverá os problemas do aquecimento global, a crise na saúde, eliminará a pobreza, ajustará a economia e unirá um país dividido.
Para dois problemas, entretanto, nenhum político ousa apresentar soluções: morte e maldade. Endêmicos à condição humana, esses dois problemas nos acompanharão por toda nossa vida. São exatamente esses os problemas que o evangelho de Cristo promete solucionar – não através da política ou ciência, mas através de um projeto que se iniciou no Gólgota.
Estudiosos da Bíblia mostram que o capítulo 3 de Romanos é a mais compacta exposição das boas novas. Antes de revelar a cura para aqueles dois males, Paulo detalha a impotência da humanidade em achar solução por conta própria. Como um médico, ele precisa impressionar seus pacientes com a gravidade da doença antes de apresentar sua cura.
Sou confrontado com as três categorias de pecadores apresentadas por Paulo em Romanos 1 e 2. Ele começa descrevendo infratores flagrantes: depravados, assassinos e inimigos de Deus (embora, curiosamente, ele também mencione os pecados “de todo dia”, como ganância, fofoca, inveja e desobediência aos pais).
Como seus leitores eram cidadãos conscientes, presunçosos por sua superioridade moral ante àqueles depravados, Paulo vira a mesa do jogo no capítulo 2: “Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas”.
Posso nunca ter roubado um banco, mas será que eu já soneguei meus impostos? Ou será que eu fiz alguma obra em minha casa sem que tivesse licença para fazê-la? Será que já ignorei uma necessidade por causa de preguiça? Paulo segue a lógica de Jesus apresentada no Sermão do Monte: Homicídio e adultério diferem de ódio e luxúria apenas por uma questão de grau. Na verdade, a pessoa que comete um mal flagrante tem uma vantagem peculiar: um giroscópio interno na consciência que registra a sensação de estar fora de curso.
Certa vez, aceitei participar de um programa de cristãos chamado de os 12 passos, como os alcoólicos anônimos. Enquanto falava com os que ali estavam e ponderava acerca do que ia dizer, eu finalmente decidi pelo irônico título: “porque às vezes eu desejaria ser um alcoólatra”. Ocorreu-me que aquilo que levava os alcoólatras a confessarem-se todos os dias – falhas pessoais, a necessidade diária de graça e ajuda de amigos e de um poder maior – representa altos obstáculos para aqueles de nós que se orgulham de sua independência e auto-suficiência.
Paulo reservou seus comentários mais contundentes para uma terceira categoria de homens, os portadores de justiça própria, que em seus dias eram, majoritariamente, judeus que se orgulhavam por guardar estritamente a lei. Fariseu dos fariseus; Paulo conhecia muito bem esse título, como atesta em uma de suas cartas. Ele se refere aos depravados como “eles”, e aos bons cidadãos como “vocês”. Entretanto, quando ele discursa sobre a justiça própria, ele usa a primeira pessoa do plural. “Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma!”.
Nos seus piores dias concernentes à justiça própria, Paulo perseguiu cristãos e esteve presente no apedrejamento de Estêvão. Ele sabia dos perigos que acompanhavam aqueles que se achavam moralmente superiores. Assim como a negação pode fazer com que pessoas não procurem médicos por cause de um nódulo ou uma lesão cutânea, pondo, assim, vidas em risco, a negação do pecado pode conduzir a conseqüências ainda maiores. A menos que aceitemos esse desolador diagnóstico, não encontraremos cura.
A descrição da confissão de Paulo sobre sua justiça própria me faz lembrar um incomum esforço de M. Scott Peck para identificar uma nova desordem psíquica chamada mal. Em seu livro “Povo da mentira” Pack analisa os tipos de maldade e conclui, como Paulo, que os piores deles são os mais sutis. Todos condenamos abusos infantis – mas o que dizer sobre pais controladores e manipuladores que trazem conseqüências devastadoras sobre suas crianças. Pack menciona uma surpreendente característica da maldade: atitude de se esquivar; intolerância com críticas; preocupação pública para com sua imagem e com sua respeitabilidade; fraqueza intelectual.
Paulo conclui: “Não há um justo; nem um sequer”. Talvez na passagem mais sombria de toda a Bíblia, ele fez uma conjunta descrição anatômica deste problema, ao dizer que eles têm: línguas enganadoras, gargantas como um sepulcro aberto, lábios venenosos, pés violentos e olhos arrogantes (Rm 3.10-18). Todas essas coisas estabelecem a magnífica apresentação do evangelho que começa em Romanos 3.21, a explicação da justificação pela fé somente que desencadeou a Reforma Protestante.
A graça de Deus, única solução para a morte e a maldade, vem sem custos, livre da lei, livre dos esforços humanos para obtê-la. Para essa livre oferta, nós só precisamos manter abertas as nossas pobres e necessitadas mãos – o gesto mais difícil para alguém cheio de justiça própria.


Traduzido por Daniel Leite Guanaes
Copyright © 2008 por Christianity Today International
Extraido de:http://cristianismohoje.com.br

A sombra do suicídio




Existe apenas um único problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida significa responder à questão fundamental da filosofia.  Albert Camus 
 




Evangélica relata a dor de ver seu filho tirar a própria vida
 

Quando tinha 13 meses de vida, meu filho Gabriel teve seu primeiro ataque de asma. Eu e minha mãe estávamos terminando as provas do vestido e das lembranças para o meu casamento, que se aproximava. Gabe, como o chamávamos, ficou muito mal – durante todo aquele dia, revezamo-nos em turnos para assisti-lo e dar-lhe remédios que o acalmassem e mantivessem respirando até que o levássemos ao médico. No cair da noite, nós estávamos na emergência do hospital vendo os milagres que podem ser forjados com substâncias como adrenalina e esteróides orais. Gabriel passou os cinco dias seguintes, incluindo o do meu casamento, recuperando-se da crise numa tenda de oxigênio.
Essa memória me lembra que alegria, dor e doença são experiências arraigadas na história de minha família. A começar pelo próprio nascimento de Gabriel. Ele é filho de um tanzaniano e fruto de um romance universitário falido. Não havia o que esconder a respeito das circunstâncias de sua concepção e vinda a este mundo, principalmente depois que me casei com um homem branco como eu. Também não havia remédio para a dor dessas circunstâncias, a não ser o eterno bálsamo do amor.
Por aproximadamente duas décadas, o amor deu rédeas a Gabriel, a seu irmão, a meu marido e eu, como se nós galopássemos lindamente pela vida. Então nós tivemos uma surpresa. Ao mesmo tempo que Gabe se formou na universidade, ele tinha sérias dificuldades em se relacionar com nossos amigos, e era solitário. Por outro lado, nossas experiências pessoais com a igreja tinham deixado eu e meu marido mancando e meus filhos, extremamente desmotivados em relação à vida cristã. Convenci a mim mesma que remédios em casa e o tempo iriam nos curar, e como autodemonstração de fé, contei para os outros que eu iria provar a supremacia do amor nas vidas dos meus filhos. Pois exatamente na época em que pensei estar retomando o controle da situação, meu filho Gabriel se suicidou. Ele tinha 23 anos.
As lembranças que tenho são de calma, entre inexoráveis ondas de tristeza e culpa. Isso me lembra que eu não sou Deus; não posso saber ou ver tudo. Isso também me lembra das muitas vezes em que eu consegui a ajuda para meu filho antes que fosse tarde demais. Minha sanidade e fé demandam cada lembrança. O suicídio é como uma cruel brincadeira cósmica. Era como se Deus ou o diabo, ou algum Jó, estivesse escarnecendo ou brincando conosco. Nossa paranóia era grande – teríamos eu e meu marido sido pais relapsos ou negligentes? Que tipo de ironia horrível foi aquela que fez nosso filho, um rapaz com tudo pela frente, tirar a própria vida?
E o pior é que eu não era leiga no assunto. Ironicamente, no dia anterior àquela tragédia, eu havia participado de um fórum sobre psiquiatria e espiritualidade. Havia até postado textos na internet sobre prevenção ao suicídio. Eu me martirizava pensando que deveria ter reconhecido os sinais de aviso. Ao contrário do que se imagina, quem exibe os mais pronunciados sinais de predisposição mental ao suicídio tende a escolher recursos menos letais, enquanto aquelas que agem impulsivamente recorrem a métodos violentos, como atirar-se de um ponto alto. Por outro lado, menos de dez por cento dos sobreviventes de uma tentativa de suicídio prosseguem no intento de tirar suas vidas. Para mais de 90%, a crise passa.
Naquela noite fatídica, depois da chegada da polícia, recebi a visita de Aaron Kheriaty, o psiquiatra que havia me encaminhado àquele congresso. Ele pacientemente nos assegurou que a morte de Gabriel não era nossa culpa. Lembro-me de suas palavras gentis, mas enfáticas, insistindo que a morte nunca faria sentido, ainda mais através de suicídio, um ato inerentemente irracional. Kheriaty era a pessoa adequada para participar de nosso momento de dor, ao contrário de alguns pastores que preferem descrever o suicídio como uma escolha imprudente ou simples falha espiritual. Aquele especialista também falou no funeral de Gabriel. Sua presença ajudou a estruturar meu desgosto e descansar minha mente que estava imersa num oceano de dúvidas.
Passado o trauma inicial – refiro-me ao trauma, porque a dor não passa nunca! –, relembrei as últimas conversas que tive com meu filho. Uma delas foi justamente naquela noite, antes de ele sair. “Gabe, querido”, eu disse. “O que está acontecendo com você? Seus olhos parecem mortos.” Ele somente fez como que se não precisasse de nada e eu o deixei ir. Só que Gabe, como aproximadamente metade dos universitários, tornou-se depressivo quando deixou nossa casa. Eu o incentivei a procurar conselhos no serviço escolar. Depois, olhando em perspectiva, desejei que nós tivéssemos lhe dado um ultimato: que procurasse ajuda ou voltasse para casa.
Somente nos fins de semana que passava conosco Gabriel revelava que algo em seu íntimo ia errado. Ele se tornou um jovem fechado e irritante, com humor oscilante. Notícias de empréstimos tomados sem razão e casos de delinquência chegavam pelo correio quase que diariamente. Ele usava roupas sujas para ir trabalhar, dormia pouco e aparentava pouco apetite. Entretanto, pouco antes de sua morte, Gabriel se apresentou em um clube de comédia. No dia da sua morte, ele brincou com colaboradores e publicamente professou seu amor por Jesus. Especialistas descrevem essa contradição como “suicídio calmo”, que acontece quando alguém decide, finalmente, acabar com o tormento mental. O aspecto vago que eu notei em seus olhos já era indício de depressão suicida. No seu espírito, ele já tinha nos deixado.
Sobreviventes precisam de tempo e espaço para vir à realidade de auto-avaliação. Kheriaty fechou sua mensagem com uma meditação do Príncipe da paz. Na cruz e na sua agonia, nosso Senhor sofreu não somente nossas aflições físicas, mas nossas angústias mentais também. Fora de nossas profundidades nós choramos diante do Senhor, e ele alcança o nosso profundo e nos levanta com ele. Deus sabe da profundidade do nosso sofrimento; ele conhece a fragilidade do nosso coração. E o coração do próprio Cristo, tão humano quanto divino, é misericordioso além da medida. E é nessa misericórdia que nós colocamos nossa esperança. Nas mãos estendidas na cruz, num gesto supremo de amor, é que nós confiamos Gabriel.
Quando eu penso em tudo que Gabe sofreu em sua vida, fico sem entender algumas coisas. E descubro que é difícil confiar em Deus ou me engajar com intimidade como fiz uma vez. Todo dia, inalo um momento de graça. Estou imensuravelmente grata pelo privilégio de ter sido a mãe de Gabriel. Pela fé, vejo agora que meus encontros acidentais com Aaron Kheriaty não foram uma piada cósmica, mas uma evidência da imanência de Deus. Como Gabriel estava caminhando para fora da porta desta vida, eu o chamei depois, dizendo “eu te amo”. Amor é tão forte como a morte, conforme Salomão escreveu. Sim, o amor de Deus é mais forte.
Christine A. Scheller é escritora e mora em New Jersey, EUA
Prevenindo o que não se pode remediar
Segundo a Fundação Americana para Prevenção do Suicídio, esta é a quarta causa de morte entre pessoas de 18 a 65 anos e a terceira entre adolescentes e jovens adultos nos Estados Unidos. Todavia, noventa por cento das vítimas de suicídio sofrem de disfunção psiquiátrica diagnosticável – por isso, reconhecer os sintomas e tratá-los pode salvar vidas.

Fatores de risco incluem:
Desordem psiquiátrica
Uso abusivo de drogas (inclusive medicamentos legais)
Tentativa anterior de suicídio, ou histórico familiar de suicídio ou doença mental.
Fator demográfico (homens brancos de idade avançada possuem o maior percentual de suicídio; e indivíduos com tendência artística sofrem desproporcionalmente de disfunção de comportamento)
Sinais de advertência incluem:
Desânimo persistente
Perda de interesse em atividades antes consideradas agradáveis
Falta de esperança
Ansiedade, dor física, tensão interna
Retraimento
Distúrbios no sono
Aumento do uso de álcool e/ou drogas
Prática de atividades arriscadas
Conversa sobre suicídio ou desejo de morrer
Prodigalidade (doação de bens valiosos, por exemplo)
Aquisição ou posse de arma de fogo, venenos ou drogas narcóticas
Aumento de irritabilidade ou raiva
Caso você conheça ou conviva com um potencial suicida, saiba como ajudá-lo:
Pergunte se a pessoa está considerando o suicídio e se ela tem plano neste sentido
Evite culpar o potencial suicida. Em vez disso, expresse preocupação com empatia, assegurando-lhe que sentimentos suicidas são temporários, problemas podem ser resolvidos e a depressão é tratável
Encoraje a pessoa a procurar ajuda profissional. Indivíduos suicidas geralmente acham que não podem ser ajudados
Em situações de crise, não hesite em encaminhar a vítima a atendimento especializado
Nunca deixe o suicida em potencial sozinho
Remova objetos que poderiam ser usados em tentativas de suicídio

Relato da escritora americana Christine A. Scheller Extraido de:http://cristianismohoje.com.br

A simplicidade do Evangelho


Eu creio no Cristianismo tal como creio que o Sol nasceu, não apenas porque o vejo mas porque através dele eu vejo todas as outras coisas.                                                                                    C.S.Lewis









“Temos posto tantos apetrechos no Evangelho que a prática de nossa fé se torna pesada e confusa”
Um único trecho da Bíblia, o capítulo 12 do evangelho segundo Mateus, traz pequenos relatos em que é exposta a simplicidade de Jesus expondo a arrogância dos mestres da lei e dos fariseus de seu tempo. As autoridades religiosas do contexto histórico em que o Filho de Deus viveu neste mundo censuravam-no constantemente. Incomodados porque seus seguidores colhiam e comiam espigas no dia considerado sagrado, os fariseus reclamaram: “Eis que os teus discípulos estão fazendo o que não é lícito no sábado” (Mateus 12.2). A estes, Jesus responde dizendo que a misericórdia era mais importante do que o sacrifício.
Mais adiante, os doutores continuaram procurando ocasião para acusá-lo como infrator da lei. Diante da cura de um enfermo em plena sinagoga, saíram-se com esta: “É lícito curar no sábado?” (vs. 10). Quando Jesus libertou um opresso das amarras dos demônios que o atormentavam, os escribas e fariseus blasfemaram: “Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios” (vs. 24). Por último, pediram ao Mestre que fizesse algum sinal (vs. 38). De forma indireta, Cristo responde que o principal sinal seria a sua própria ressurreição – mas advertiu que, mesmo assim, eles continuariam incrédulos.
Jesus foi muito perseguido pelos clérigos porque a sua mensagem os expunha. Os líderes judeus sobrecarregam o povo com obrigações inócuas, criando um sistema religioso que mantivesse seu poder e seus privilégios. O detalhe é que o Salvador não tinha dificuldades com a lei mosaica, pois foi o próprio Deus que a deu. O incômodo de Jesus era com os apetrechos e pesos que as autoridades religiosas vinham colocando sobre essa lei. Sua proposta era resgatar o real sentido das ordenanças divinas – e ele a expressou com uma proclamação antológica: “Vinde a mim vós que estás cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei”. A religiosidade sobrecarrega, enquanto que a mensagem de Jesus alivia.
Dois mil anos se passaram, e quando analisamos o cristianismo que temos vivido, percebemos que também nós, à semelhança daqueles fariseus e doutores da lei, temos posto tantos apetrechos no Evangelho que a prática de nossa fé se torna pesada e confusa. A Igreja Evangélica vive de hoje vive às voltas com práticas doutrinárias e litúrgicas heterodoxas, colocando sobre os crentes um fardo de regras e obrigações difíceis de suportar. As organizações eclesiásticas do século 21 parecem envolvidas numa série de práticas que não a aproximam da verdadeira essência do Evangelho proposto pelo Salvador.
É necessário pensar no que de fato é a experiência do Reino de Deus e no que é simples ornamento. Podem ser ornamentos belos, úteis, justificáveis, funcionais e bem intencionados; práticas inteligentes, sofisticadas e com alto poder de alcance – no entanto, não é isso a essência da vida cristã. As estruturas eclesiásticas não são a Igreja. As coisas que construímos para facilitar a divulgação da fé não podem ser confundidas com o próprio Evangelho. Pastores vivem tentados a impressionar os ouvintes com o poder das suas palavras. Quando nos damos conta de que o teor estético das mensagens sobrepuja a espiritualidade, já estamos viciados em técnicas de oratória. É um efeito perverso, que se volta contra o próprio pregador. E o pior é que nem sempre a palavra profética cabe nos invólucros eclesiásticos.
Há a construção de uma dicotomia artificial nas nossas igrejas. Pensam alguns que espiritual é tudo que é apresentado numa roupagem exótica e excêntrica. Sob esta perspectiva, o que genuinamente vem de Deus é aquilo que é desconhecido e diferente. Em decorrência desse pensamento, práticas espirituais rotineiras como estudo da Bíblia, oração sistemática, serviço cristão e comunhão são vistos como traços da tradição que não provocam calor nem rubor. O templo, as organizações eclesiásticas, a liturgia, os programas e as atividades não são em si o Evangelho. É possível viver o Evangelho sem se envolver com essas estruturas eclesiásticas, assim como é possível estar totalmente envolvido com elas e não conhecer a Cristo.
Sofremos da epidemia que reduz Deus a coisas temporais da igreja ou na igreja. Acontece que quem vive para fazer um mecanismo funcionar com a força do próprio braço tende inexoravelmente à exaustão. Esgota-se quem carrega os apetrechos da fé. Talvez a confissão de pecado que tenhamos que fazer como Igreja cristã acentuadamente dogmática e institucionalizada seja por ter tirado Deus do centro e posto em seu lugar as coisas referentes a ele. O Espírito Santo pode agir dentro das estruturas que criamos, mas age também a despeito delas. Por isso, não é aconselhável que se baseie a vida em nome de um brasão eclesiástico ou denominacional, mas é coerente que aqueles que têm crido entreguem-se por completo ao Senhor, a fim de que o Evangelho floresça.


Texto de: Valdemar Figueredo Filho
Extraido de: http://cristianismohoje.com.br

Perdidos no meio das mudanças


 Para o sociólogo Christian Smith, a nova geração de adultos cristãos enfrenta o paradoxo entre a liberdade e a indecisão
Por Katelyn Beaty
De acordo com estudos modernos, jovens adultos tendem a tentar esticar liberdades da adolescência
O liberal francês Alexis de Tocqueville escreveu, no século 19, que “quando há uma ausência de autoridade, tanto na religião ou na política, os homens logo se amedrontam com a independência ilimitada com a qual são confrontados e com a inquietação constante de tudo”. Suas palavras atravessaram quase 200 anos para ganhar novo significado nessa tal de pós-modernidade. As duas áreas citadas pelo autor do clássico Democracia na América – coincidência ou não, justamente aquelas que, costuma-se dizer, não se deve discutir – parecem padecer da falta de valores mais sólidos. Por outro lado, a multiplicidade de oportunidades e a decadência dos modelos clássicos de poder têm moldado uma geração em crise consigo mesma e com a figura da autoridade. No mais das vezes, Deus acaba indo de roldão na confusa mistura de ego, consumo e imaturidade que caracteriza a vida dos cristãos do século 21, principalmente aqueles que estão chegando agora à idade adulta.
O sociólogo Christian Smith, da Universidade Notre Dame e diretor do Centro para os Estudos da Religião e da Sociedade, é um observador arguto deste momento da sociedade ocidental e da Igreja. Ele toma emprestado o termo cunhado pelo colega Jeffrey Jensen Arnett para definir essas pessoas na faixa entre os 18 e os 25 anos e que possuem mais opções do que em qualquer geração anterior. “Isso molda seriamente as crenças e práticas religiosas dos adultos emergentes”, diz o estudioso. No seu entender, trata-se de um dos grupos etários mais autoindulgentes, confusos e ansiosos, já que são conduzidos a uma “adultolescência” que impede a maioria de assumir compromissos com pessoas e instituições.
O conceito da adolescência prolongada é fenômeno típico das sociedades industrializadas, mas também se observa em nações emergentes como o Brasil. Este período da vida apresenta características específicas. Ele é marcado, notadamente, pela exploração da identidade, pela instabilidade, pelo autofoco e pela percepção de múltiplas possibilidades. “É mesmo uma época de transição, de vivência do sentimento de in-between (algo como estar entre duas coisas)”, explica Smith. A prioridade nesta fase, concordam os estudiosos, é a entrada no mundo adulto e a construção de uma estrutura de vida estável. Pesquisas mostram que, nos Estados Unidos, a média do casamento mudou de 21 anos para as mulheres e 23 para os homens, nos anos 1970, para 26 e 26, respectivamente, em 1996. O padrão manteve-se na mesma proporção em relação à chegada do primeiro filho. Já em Portugal – outra nação em que os estudos demográficos já incluem a questão da adultez emergente –, a idade média do ingresso na paternidade deslocou-se dos 23,5 anos para os 28 anos.
Autor de livros como Souls in transition (Almas em transição) e Soul searching (O esquadrinhar da alma), Smith identifica seis tipos religiosos de adultos emergentes, que vão dos irreligiosos aos espiritualmente comprometidos (ver quadro). A fé cristã é o traço comum à maioria, já que herdaram-na dos pais ou a adquiriram nas primeiras fases da vida – o que difere, e muito, é a maneira como ela interfere em sua existência.
CRISTIANISMO HOJE – Quais são as mudanças culturais que têm produzido essa geração de adultos emergentes?
CHRISTIAN SMITH – Basicamente, a transformação social verificada a partir dos anos 1960 e 70 é que levou a isso. Agora, há uma proporção bem maior de jovens que passam mais anos estudando, período que vai muito além do ensino fundamental e médio. Eles dedicam anos a fio a cursos superiores e pós-graduações. Com isso, tendem a esperar mais tempo para assumir os compromissos da vida adulta, como definição da carreira e constituição de família. Em outras palavras, querem ficar “livres” por mais tempo. Outro fator são as mudanças na economia global, que faz com que os empregos sejam mais instáveis e imprevisíveis. Atualmente, você não pode se acomodar num mesmo emprego por toda sua vida, ao contrário do que acontecia nas gerações anteriores. Talvez você seja transferido, talvez seja despedido, talvez haja necessidade de uma nova capacitação – e todos esses fatores fazem com que os jovens fiquem sempre numa expectativa de algo que eles mesmos não sabem exatamente o que é.

A característica básica desse grupo é a falta de compromisso?
De certa forma, tudo o que esse adulto emergente quer é ficar desvairado e livre, pulando de um parceiro sexual a outro, ou de uma atividade a outra, por exemplo. Conforme terminam seus anos de adolescência, os jovens entendem que basicamente eles mais uns dez anos para se divertir antes de ter a sua própria família e se adequar ao seu “verdadeiro emprego”.
Como essas transições afetam as atitudes religiosas dos adultos emergentes?
A maioria do que acontece na vida destes adultos emergentes trabalha contra compromissos sérios com a fé e também em relação ao estabelecimento de raízes numa determinada confissão ou congregação. Muitos dos adultos emergentes são desconectados de coisas religiosas. A mobilidade geográfica e social, a vontade de querer ter várias opções, de se soltar e viver a vida são fatores que reduzem o compromisso mais sério com a fé. Mesmo aqueles que tiveram uma criação religiosa buscam uma identidade diferente da tradição familiar. Há também um segmento bem maior de jovens adultos que é abertamente hostil a qualquer religião. Como são autoindulgentes, acham que não precisam de religião para que se tornem boas pessoas. O mundo do adulto emergente é muito fechado em si. Adultos mais velhos geralmente são os seus chefes ou professores, aos quais têm de provar continuamente seus méritos. Para alguns adultos emergentes, esse caos ajuda a descobrir que a religião pode ser um antídoto extremamente útil. E somente alguns procuram a fé em Deus para lhes dar estabilidade; a maioria nem chega a buscar nada desse tipo. Mas, somente vão perceber isso após passarem por muitas dificuldades.
Os adolescentes, conforme sua argumentação em Soul Searching, têm uma desconexão estrutural do mundo adulto. Isso vai necessariamente repercutir nas fases seguintes de sua vida?
O fator principal são os pais. Por bem ou por mal, os pais são extremamente importantes em moldar a trajetória de fé dos seus filhos. O papel dos pais é primordial e não somente em falar aos seus filhos sobre o que crêem, mas viver o que falam. Existe um número expressivo de adultos emergentes que foram criados em famílias seriamente comprometidos com a religião e que seguem em frente com o que lhes foi ensinado. Mas a cultura do adulto emergente coloca muitas pressões deteriorantes nas práticas de fé. Devo frisar que sou um sociólogo, e não um consultor prestando um serviço para a Igreja. Todavia, em termos das implicações do nosso trabalho para as igrejas, as duas palavras-chave são engajamento e relacionamentos. Não podemos apenas realizar programas ou classes ou entregar as pessoas para o pastor de jovens. As mudanças verdadeiras acontecem quando as pessoas estão se relacionando.
Sendo assim, que tipo de respostas a Igreja pode oferecer às ansiedades desse segmento?
Conectar-se com os adultos emergentes vai exigir mais criatividade e iniciativa do que estou vendo nesta atual conjuntura. Em primeiro lugar, é preciso identificar que existe essa fase da vida. Não é que simplesmente temos adolescentes a depois temos os adultos – ou seja, não se trata do simples passar dos anos. Esse período de transição complexa é uma construção recente, historicamente falando, e precisa ser abordado. O que significa isso? E como isso se encaixa na formação da fé? As igrejas precisam perceber que a demografia e a família estão mudando. Se a Igreja tem como função primordial ministrar somente para famílias de núcleo tradicional – homem, mulher e seus filhos vivendo sob o mesmo teto –, segmentos inteiros não serão alcançados. Isso vai requerer mais autoconsciência e respostas a perguntas como “O que temos falado” e “O que estamos fazendo aqui”. Necessariamente, será preciso avaliar criticamente a linguagem que se usa, os programas que se oferece, para que esses jovens não se sintam excluídos e possam descobrir interesses além do culto de louvor tradicional e da escola dominical.
Os adultos emergentes gostam da igreja emergente, aquela que reúne-se de maneira mais informal e critica a institucionalização das organizações religiosas?
A reposta final seria sim. As igrejas emergentes descobriram algo que promove uma conexão melhor com essa onda de pessoas jovens. A ênfase desse movimento, se de fato for um movimento – já que sua presença, até agora, ainda é pequena – é uma resposta de bastante sucesso ao que está acontecendo na cultura do adulto emergente. Aonde houver esta igreja, ela será bem mais intrigante e atraente para um adulto emergente do que uma igreja que tenha uma abordagem mais tradicional. Mas esse pessoal está prestando bastante atenção ao que lhes está sendo oferecido.  Se, então, a igreja emergente não tem alguma coisa que a diferencia de maneira genuína daquilo que os adultos emergentes já possuem de sobra, eles não vão prestar atenção nem por dois segundos.
Sua pesquisa parece gerar dúvidas sobre estudos anteriores que constataram que uma educação mais avançada corrói as crenças religiosas…
Sim. Não é que os estudos anteriores estavam errados. O problema é que o mundo está realmente mudando. De fato, a faculdade não mudou nada em termos do resultado da corrosão da fé dos jovens. Talvez, em alguns casos, até sirva para fortalecer a crença de alguns. Existe um número crescente de professores evangélicos nas faculdades, além da presença de grupos universitários religiosos e ministérios cristãos atuando ali, num engajamento intelectual que seria repelido tempos atrás. A cultura também mudou: a espiritualidade agora é mais aceitável do que em décadas passadas. A maioria dos professores sabe que não podem falar coisas estupidamente antirreligiosas na sala de aula e escapar impunes. Não estamos na década de 1950. Isto não quer dizer que os pais podem ficar despreocupados por completo quando seus filhos vão para a faculdade – mas é que agora existem fatores que permitem que as comunidades de fé possam providenciar o suporte necessário para os jovens que estão na faculdade.
Da rejeição ao compromisso
Em seu livro Souls in transition, escrito em parceria com Melinda Lundquist Denton, Christian Smith identifica as características de alguns grupos de adultos emergentes:
Tradicionalistas comprometidos – São aqueles que abraçam uma forte fé religiosa, cujas crenças sabem articular bem e também praticam ativamente. As religiões às quais se filiam tendem a ser fundamentadas em tradições de fé já estabelecidas, históricas.
Aderentes seletivos – Muitas vezes, receberam uma criação solidamente religiosa, mas são mais criteriosos no que se refere à adoção das crenças da sua tradição. Eles discordam ou ignoram os preceitos de sua fé quando o que está em jogo é a liberdade pessoal – não deixam que a religiosidade interfira, por exemplo, em seus comportamentos
Espiritualmente abertos – Não têm um compromisso específico com alguma fé religiosa, mas apesar disso são abertos a ouvir sobre assuntos espirituais. A sua atitude pode ser resumida com o seguinte raciocínio: “Provavelmente, deve haver mais alguma coisa além disso tudo”
Religiosamente indiferentes – Tendem a se distrair e investem tempo com outras coisas na sua vida, e assim não têm tempo para se dedicar à religião. Simplesmente, a fé não é uma prioridade nas suas vidas. Ao contrário de alguns aderentes seletivos, os indiferentes religiosos não sentem nenhuma culpa verdadeira ou remorso pela sua falta de interesse em práticas devocionais
Desconectados – Procedem de famílias e relacionamentos que simplesmente lhes isolam da maioria das coisas religiosas
Irreligiosos – Os irreligiosos têm, em geral, uma atitude incrédula, depreciativa ou até antagônica em relação à fé. Muitos já questionaram e fizeram perguntas intelectuais e existenciais sobre a religião e chegaram à conclusão de que ela não faz sentido. Até aceitam que a religiosidade exerce papel positivo para muitas pessoas, mas preferem o secularismo


extraido do site:http://cristianismohoje.com.br